sexta-feira, 29 de abril de 2016

Estresse afeta desempenho dos jogadores.



Pesquisa do professor Alcir Sanches, da Faculdade de Educação Física, mostra que o estresse combina combina com derrota. O pesquisador investigou as reações de 472 jogadores de futebol do Distrito Federal, entre 15 e 50 anos, em 77 situações que podem causar medo, ansiedade ou motivação. A conclusão foi que esses sentimentos podem ser decisivos no rendimento esportivo.

Jogar machucado, em uma posição improvisada e com um grupo desunido foram algumas das situações apontadas como as principais causas de estresse entre os atletas. Foi o que aconteceu com a França. “A desunião do grupo francês se refletiu no campo. Esse é o melhor exemplo dessa Copa do Mundo. O estresse foi o fator predominante na má atuação desse time”, afirmou o professor.

Ser cobrado por jornalistas, fazer um gol contra, perder um pênalti, sofrer uma goleada, terminar o primeiro tempo da partida perdendo, ser cortado do jogo no vestiário e jogar em um campo em condições ruins também foram outros fatores considerados negativos para o desempenho pelos atletas. “Até meados dos anos 70, a preparação física e a tática poderiam explicar a performance. Depois disso, passaram a considerar a psicologia como outro fator que contribui para os resultados”, explica Sanches. “Questões psicológicas se tornaram tão importantes para as equipes, que todas têm um psicólogo na comissão técnica”, completa.

BRASIL – Kaká, meia-atacante brasileiro, também teve o estresse como inimigo na partida entre o Brasil e a Costa do Marfim, no dia 20 de junho. O atleta de comportamento exemplar foi expulso pela terceira vez em nove anos de carreira. "Tomara que o substituto já tenha sido convocado", avisa Alcir. É que a pesquisa mostra também que ser convocado de última hora é ruim para os jogadores. "A espera gera muita ansiedade entre os jogadores que aguardam uma chance”, comenta o professor.

Para o pesquisador, a equipe brasileira deverá receber uma atenção especial do psicólogo da seleção. “Sempre que o Brasil entra em campo, a torcida espera um espetáculo. Ganhar, para o torcedor brasileiro, não basta. Ele espera pedalada, gols de placa e vencer de goleada”, afirma Sanches. Ele alert que as pressões da torcida e até das outras equipes, da imprensa e o próprio favoritismo do Brasil geram um estresse descomunal nos jogadores e em toda a comissão. “Nós temos a cultura de não aceitar uma medalha de prata. Como se ficar em segundo lugar não fosse um mérito. Temos sempre que estar no topo. É uma pressão muito grande e exige preparação dos jogadores para estarem entregues na partida”, explica a professora Rossana Benck, da Faculdade de Educação Física.

A torcida e a imprensa, além de exigirem o futebol bonito, criticam a escalação feita por Dunga. Sanches argumenta que o técnico pesou o lado psicológico na hora de convocar.
Um exemplo disso foi ter deixado o Adriano, jogador do Flamengo, fora da Copa do Mundo. “Dunga não o chamou porque ele está desequilibrado emocionalmente. O Adriano leva os problemas pessoais para dentro do campo e acaba não rendendo. É claro que também falta preparo físico”, afirma Sanches. “Um sujeito que sempre foi craque não deixa de ser bom do dia prá noite. Questões psicológicas explicam a mudança de comportamento”, completa.
Rossana Benck lembra que cada atleta interpreta o estresse de uma maneira diferente. “Conheço pessoas que se sentem motivadas em situações consideradas estressantes. É como uma injeção de ânimo.”

VUVUZELA – A polêmica “arma” de fazer barulho, que invadiu os estádios na África do Sul, pode interferir no desempenho dos jogadores. A poluição sonora atrapalha até quem assiste aos jogos pela televisão e pode estressar quem está em campo. Para piorar, pode desconcentrar a equipe. Sanches argumenta que se o jogador tiver foco, nada do que estiver acontecendo fora dos gramados poderá afetá-lo. “Eu fui goleiro por muitos anos, quando passei a prestar atenção em quem gritava atrás do gol, a bola passou a entrar. Enquanto tive foco e estava concentrado na partida fiz bem o meu trabalho”, conta o pesquisador.

Texto: Cecília Lopes

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